A ONDA RELIGIOSA
Perguntaram-me dois jornalistas de periódico do interior se, como
sacerdote católico, não me preocupava o fato de que naqueles dias Lula,
católico declarado e amicíssimo de Frei Beto, se abrira mais para os
evangélicos; de o seu vice ser de um partido majoritariamente evangélico e
ainda, se não me preocupava o crescimento deles e o encolhimento da Igreja
Católica.
Pedi tempo para não responder em apenas uma sentença. O assunto é
fundamental e a resposta não cabe numa frase de efeito. Entre outras coisas eu
disse citando Bento XVI que as estatísticas não devem ser a preocupação número
um da Igreja e sim o conteúdo da sua mensagem, nem que percamos por algumas
décadas ou séculos.
Disse-o em outras palavras a Peter Seewald no livro “O
Sal da Terra”. Também Jesus chamou os seus seguidores de pequeno rebanho. ((Lc
12,32) Por um tempo, certos grupos de extração evangélica e pentecostal eram o
pequeno rebanho. Ultimamente estão menos pequenos, embora alguns andem
maquiando a estatísticas para parecerem maiores do que são. Mas certamente
cresceram e, pelo visto, crescerão muito. Espero que cresçam sadios e
pacíficos, porque os religiosos donos da verdade, e isso inclui minha igreja,
já criaram muitas guerras por espaço e por dominação.
É claro que me preocupa, mas inquieto-me bem menos pelo crescimento dos
outros do que pela diminuição dos nossos. São irmãos e irmãs que preferem ouvir
outros púlpitos, outros pregadores e outras garantias de salvação em Jesus,
motivados por outros testemunhos e outras leituras do evangelho. Trocaram o
padre pelo pastor. Preferiram outro rebanho. Aceitaram ser apascentadas por
reverendos pastores em outros rebanhos porque acreditaram no seu discurso de
que têm mais Cristo a oferecer. Talvez tenham. O tempo o dirá. O fato é que
hoje eles acreditam mais nos bispos e pastores do eu- anguélion: (a boa nova)
do que nos bispos e padres do cat-holou ( abrangente, para todos). Não querem
mais o enorme colo da Igreja Católica e acham-se mais bem cuidados no colo às
vezes pequeno de um rebanho pentecostal ou evangélico.
Como a vida e a fé tem vais-e-vens, nós que estamos no mundo há milênios
e no Brasil há 500 anos sabemos a força e o poder do novo, contado e mostrado
de um novo jeito, e através de poderosos novos veículos. Enfrentamos isso umas
duzentas vezes com grupos dissidentes que nasceram entre nós e se tornaram
igrejas sem nós ou contra nós.
O marketing religioso feito com grande competência por estes irmãos de
outras igrejas certamente tem muito a ver com o seu crescimento. Se bancos,
palhas de aço, sabonetes e cremes passam a ter milhões de compradores, e
artistas, milhões de fãs, porque apareceram na mídia, porque não uma Igreja?
Se é certo ou errado é assunto para outra conversa. Por enquanto
registre-se o fato: as igrejas que foram à mídia estão colhendo o resultado.
Qual será o resultado do resultado daqui a 50 anos? Quem viver verá! Quanto à
presença de pregadores da fé no Congresso e na política, o leitor já está vendo
os resultados. Parece que os eleitos com o voto dos seus fiéis não têm se
portado de maneira mais ética do que os outros. O nome de muitos deles estava
lá ao lado de congressistas católicos nas acusações de malversação das verbas
do povo. Pelo jeito nossas igrejas falharam na escolha dos seus fiéis que decidiram
ingressar na política. Talvez falte em todas as igrejas uma catequese mais
profunda sobre o quem é o dono dos bens de um país.
Pe. Zezinho, scj