sábado, 28 de julho de 2012


A ONDA RELIGIOSA



Perguntaram-me dois jornalistas de periódico do interior se, como sacerdote católico, não me preocupava o fato de que naqueles dias Lula, católico declarado e amicíssimo de Frei Beto, se abrira mais para os evangélicos; de o seu vice ser de um partido majoritariamente evangélico e ainda, se não me preocupava o crescimento deles e o encolhimento da Igreja Católica.

Pedi tempo para não responder em apenas uma sentença. O assunto é fundamental e a resposta não cabe numa frase de efeito. Entre outras coisas eu disse citando Bento XVI que as estatísticas não devem ser a preocupação número um da Igreja e sim o conteúdo da sua mensagem, nem que percamos por algumas décadas ou séculos.

Disse-o em outras palavras a Peter Seewald no livro “O Sal da Terra”. Também Jesus chamou os seus seguidores de pequeno rebanho. ((Lc 12,32) Por um tempo, certos grupos de extração evangélica e pentecostal eram o pequeno rebanho. Ultimamente estão menos pequenos, embora alguns andem maquiando a estatísticas para parecerem maiores do que são. Mas certamente cresceram e, pelo visto, crescerão muito. Espero que cresçam sadios e pacíficos, porque os religiosos donos da verdade, e isso inclui minha igreja, já criaram muitas guerras por espaço e por dominação.

É claro que me preocupa, mas inquieto-me bem menos pelo crescimento dos outros do que pela diminuição dos nossos. São irmãos e irmãs que preferem ouvir outros púlpitos, outros pregadores e outras garantias de salvação em Jesus, motivados por outros testemunhos e outras leituras do evangelho. Trocaram o padre pelo pastor. Preferiram outro rebanho. Aceitaram ser apascentadas por reverendos pastores em outros rebanhos porque acreditaram no seu discurso de que têm mais Cristo a oferecer. Talvez tenham. O tempo o dirá. O fato é que hoje eles acreditam mais nos bispos e pastores do eu- anguélion: (a boa nova) do que nos bispos e padres do cat-holou ( abrangente, para todos). Não querem mais o enorme colo da Igreja Católica e acham-se mais bem cuidados no colo às vezes pequeno de um rebanho pentecostal ou evangélico.

Como a vida e a fé tem vais-e-vens, nós que estamos no mundo há milênios e no Brasil há 500 anos sabemos a força e o poder do novo, contado e mostrado de um novo jeito, e através de poderosos novos veículos. Enfrentamos isso umas duzentas vezes com grupos dissidentes que nasceram entre nós e se tornaram igrejas sem nós ou contra nós.

O marketing religioso feito com grande competência por estes irmãos de outras igrejas certamente tem muito a ver com o seu crescimento. Se bancos, palhas de aço, sabonetes e cremes passam a ter milhões de compradores, e artistas, milhões de fãs, porque apareceram na mídia, porque não uma Igreja?

Se é certo ou errado é assunto para outra conversa. Por enquanto registre-se o fato: as igrejas que foram à mídia estão colhendo o resultado. Qual será o resultado do resultado daqui a 50 anos? Quem viver verá! Quanto à presença de pregadores da fé no Congresso e na política, o leitor já está vendo os resultados. Parece que os eleitos com o voto dos seus fiéis não têm se portado de maneira mais ética do que os outros. O nome de muitos deles estava lá ao lado de congressistas católicos nas acusações de malversação das verbas do povo. Pelo jeito nossas igrejas falharam na escolha dos seus fiéis que decidiram ingressar na política. Talvez falte em todas as igrejas uma catequese mais profunda sobre o quem é o dono dos bens de um país.
Pe. Zezinho, scj



sábado, 21 de julho de 2012


Ah, se eu pudesse voltar no tempo... 

 Se você tem mais de 60 anos, experimente, um dia, pôr no papel todas as coisas do passado que você se arrepende de ter ou de não ter feito. Não esqueça nenhuma. Terminada a tarefa, leia todas em voz alta e depois... Delete a lista, de preferência fisicamente e em um ritual (em uma fogueira, por exemplo) para conferir solenidade ao ato e dar a ele caráter celebrativo, de acerto final de contas com o passado. Para ser, definitivamente, a última vez que você perdeu tempo com essas coisas. O motivo? Ficar lembrando atitudes das quais nos arrependemos, e  com as quais já aprendemos, faz sofrer e é inútil. Adiantaria se, por acaso, viajássemos no tempo. Poderíamos, assim, no passado, tomar outra atitude, fazer uma opção diferente. Infelizmente, ou felizmente, ainda não inventaram tal recurso. E, mesmo se ele existisse ninguém garante que, passado novamente o tempo, não estaríamos, de volta ao futuro, arrependidos das novas atitudes tomadas. Logo, o melhor a fazer é queimar o arquivo morto da memória...

Não precisamos reescrever nossa história de vida para entendermos que as atitudes tomadas ontem, mesmo as sabidamente erradas, não podem ser redivivas. Se nós já nos arrependemos delas, nos conscientizamos que erramos e nos perdoamos, de nada adianta chorarmos sobre o leite derramado. O que passou, como dizem, passou. Em todo caso, chama a atenção o quanto essa lei da vida, tão irrevogável quanto à da gravidade, custa a ser aceita por pessoas com dificuldade em lidar com o passado. Não deveria ser assim e o psicólogo Alexandre Rivero, titular do Consultório de Psicologia e Ressignificação Humana, de São Paulo (SP), explica a razão. “Se eu não me perdoo, fico como que com um pesado saco de areia amarrado aos pés que impede de caminhar adiante e viver plenamente. O perdão, nesse caso, é a verdadeira ressignificação, ou a possibilidade, de olhar para uma velha situação já vivida com um novo olhar, renovado, sob uma perspectiva diferente”, alerta.

Terapia sem culpa – Muitas vezes, segundo os especialistas, a impossibilidade de se perdoar pode ser resultado de um quadro de depressão. Por isso, é preciso prestar atenção se a sensação constante de culpa vier acompanhada de outros sintomas clássicos dessa doença, como mudanças de humor, perda de interesse ou prazer nas atividades, ausência de autoestima, distúrbio de sono ou de apetite, falta de energia e de concentração. O que não é raro, diga-se, na terceira idade. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, a depressão acomete cerca de 15% da população de idosos do País.

Uma solução para dar fim ao remorso, ao sentimento de culpa e a renitente sensação de estar em falta com o passado pode ser uma terapia analítica. “Ela ajuda o idoso a aceitar a idade, suas limitações e a não se prender ao que deixou de ser feito, mas ao que ainda poderá fazer”, explica a psicóloga Amanda Spinicci Paiva, para quem a terapia, nessa fase da vida, não é perda de tempo. “A sociedade não vê sentido em cuidar dos problemas existenciais do idoso, pois acredita que ele não tem mais o que construir. Além disso, o próprio idoso pode entender que, já por ter vivido uma longa história de vida, não pode mudar seu rumo, o modo de pensar ou agir. Na realidade, porém, a terapia não tem como objetivo mudar o jeito do idoso, mas acolhê-lo, respeitá-lo e compreendê-lo, fazendo-o se aceitar e apresentando a ele maneiras diferentes de viver”, afirma.

Aprendizado – Não podemos, de fato, pensar que, por termos cabelos brancos ou já não termos mais cabelo algum, não estamos aptos a assimilar novos ensinamentos e ressignificar nossas vidas. É o que, novamente, nos compartilha o psicólogo Alexandre Rivero. “Se, no passado, fizemos uma determinada escolha, precisamos levar em conta que essa foi a melhor possível naquela situação e com a experiência que tínhamos até então; e não termos o desejo fantasioso e nostálgico de, aos 20 anos, por exemplo, termos agido com a experiência de uma pessoa de 60. Nossa experiência de vida é dinâmica e estamos constantemente aprendendo, seja lá a idade que tivermos”, explica o especialista.




quarta-feira, 11 de julho de 2012


Pequenas e grandes recomendações aos missionários

Oséias 11, 1-4. 8-9; Mateus 10,7-15

Eis o evangelho do envio dos apóstolos pelo mundo afora por parte de Jesus. Apóstolo quer dizer precisamente aquele que é enviado.

Na verdade na Igreja existe um duplo movimento. Os discípulos começam a conhecer o Mestre e vivem em comunidades. Rezam juntos, vivem juntos, sonham juntos, deixam-se iluminar pela Palavra, alimentam-se do Pão da Eucaristia. Esse primeiro movimento é indispensável. É o viver em comunidades de fé e de amor.

Logo depois vem o ir pelo mundo afora. Vem à dinâmica do anúncio de um fogo que se carrega no coração. Este não pode ser abafado e diminuído. Ele precisa queimar… Os missionários dedicam-se totalmente ao anúncio, num misto de empenho próprio e de confiança total naquele que os envia.

Há uma urgência. O reino está próximo. Alguns sinais da proximidade desse mundo novo: os doentes são curados, os mortos ressuscitam, os leprosos ficam limpos e não há mais domínio do demônio.

Os que partem, os que são enviados são aqueles que de graça receberam e de graça dão.

Não levam garantias terrenas, nem dinheiro, nem prata… Não levam roupas de reserva. Basta a túnica que lhes cobre o corpo. O operário é digno de sua recompensa, tem direito ao seu sustento.

Os que são enviados ficarão hospedados nas casas das pessoas. Deverão se informar se naquelas cidades há, de fato, pessoas dignas de receber esses generosos anunciadores do mundo novo. Que seus hospedeiros saibam que hospedaram a anjos.

Se as pessoas ouvirem a mensagem que continuem ali. “Se alguém não vos receber nem escutar vossa palavra, saí daquela casa e daquela cidade e sacudi a poeira dos vossos pés”.

Ontem e hoje a Igreja é essencialmente missionária. Tanto recebeu de graça, tanto precisa dar de graça.

Paulo VI, na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi assim se exprimiu: “ Enviada e evangelizadora, a Igreja envia ela própria evangelizadores. É ela que coloca em seus lábios a Palavra que salva, que lhes explica a mensagem da qual ela mesma é depositária, que lhes confere o mandato que ela mesma recebeu e que, enfim, os envia a pregar. E a pregar, não as suas próprias pessoas ou as suas ideias pessoais, mas sim um Evangelho do qual nem eles nem ela são senhores e proprietários absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer, mas de que são os ministros para o transmitir com máxima fidelidade” ( n. 15).

Frei Almir Ribeiro Guimarães