Por Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM (*)
Bem querido (a) irmão(a) ministro (a),
Paz e todos os bens!
Dirijo esta cara aberta a cada ministro (a) da OFS. Penso de modo particular, nos ministros e
ministras locais. A ideia e o título me vieram como a Carta a um Ministro de
Francisco de Assis. Sei perfeitamente que você não age sozinho, mas sempre em
união com o Conselho de sua Fraternidade. É assim que deve ser. Reconheço, no
entanto, a sua importância no seio da Fraternidade local. Você foi escolhido
pelos irmãos para estar à frente de todos. Seu exemplo e seu entusiasmo pela
Ordem é fundamental. Todos devem poder olhar para você buscando novo estímulo
para viver a santidade. Você sabe também que pode pouco. Lembre-se sempre do
conselho evangélico: fazer tudo o que deve ser feito e considerar-se servo
inútil. Ou, então, aquela outra máxima: fazer o que deve ser feito, como se
tudo dependesse de você, mas sabendo que tudo depende de Deus. A Ordem não é
sua. É do Senhor.
Uma das maiores e mais preciosas riquezas da Ordem
Franciscana Secular são as fraternidades locais concretas que são confiadas ao
seu zelo. Irmãos e irmãs aí vivem e, de alguma forma, decidem sua vida presente
e a eternidade no seio desses espaços que chamamos tão belamente de
fraternidades. Você não administra em primeiro lugar bens, coisas materiais,
mas alimenta vidas humanas tocadas por Cristo e desejosas de seguirem o Mestre
à maneira de Francisco de Assis.
1.Você não tem o
título de superior, diretor ou presidente. Seu título de honra é ser irmão (ã)
ministro (a). Você é aquele que serve. Durante três anos a sua Fraternidade
ocupará um lugar importante na organização de sua vida e no emprego de seu
tempo. Gostaria de lembrar alguns tópicos da Regra e das Constituições a
respeito de sua função de lavar os pés dos irmãos.
2.O ministro sabe que
“seu serviço, que é temporário, é um cargo de disponibilidade e de
responsabilidade em favor de cada indivíduo e dos grupos” (Regra n.21). Duas
palavras chaves: disponibilidade e responsabilidade, virtudes eminentemente
evangélicas.
3.De maneira muito
feliz e sintética, as Constituições Gerais falam assim de sua tarefa: “O cargo
de Ministro ou de Conselheiro é um serviço fraterno, um compromisso de se
tornar disponível e responsável para cada irmão e para a Fraternidade, a fim de
que cada um se realize na própria vocação e cada Fraternidade seja uma
verdadeira comunidade eclesial franciscana, ativamente presente na Igreja e na
sociedade” (Art 31, 2). Preste bem atenção ao que você acaba de ler.
4.Sim, ser ministro
não é um cargo honorífico, mas de serviço. Já disse. Você recebe, durante um
tempo, a graça de poder se esquecer de seu mundo e se dedicar de fato a pessoas
que você costuma designar de irmãos e de irmãs. Na dedicação sincera a todos
vai sendo gerado e alimentado o amor fraterno. Você haverá de estar atento às
pessoas tomadas individualmente. Ninguém poderá dizer que não tenha merecido
seu olhar e sua atenção. Mas cuidado! As pessoas sabem quando alguma coisa
nasce no coração do ministro, ou simplesmente quando ele faz ou diz por
obrigação.
5.As Constituições
Gerais elencam uma série de qualidades do Ministro que devem estar presentes em
sua gestão: “Os responsáveis pela OFS em cada nível sejam irmãos professos
perpétuos, convencidos do valor da vida evangélica franciscana, atentos, com
visão larga e generosa à vida da Igreja e da sociedade, abertos ao diálogo,
disponíveis para dar e receber ajuda e colaboração” (Art 31, 2). Gostaria que
você e seu Conselho refletissem sobre estes pontos: você precisa acreditar na
Ordem, vestir a camisa, os irmãos nunca poderão pensar que você perdeu o gás e
faz coisas por fazer; precisa abrir-se às grandes necessidades da Igreja e do
mundo, abrir-se ao diálogo. Quanta coisa: mundo da indiferença, do consumismo,
do legalismo, do devocionalismo sem engajamentos, das confusões da linha do
gênero, do ser pai, ser mãe… É assim que você pode efetuar o trabalho de lavar os
pés dos irmãos… no seu triênio de ministro. Você prestou atenção que as
Constituições falam de uma visão ampla e generosa. Por detrás disto está o
espirito de criar o novo. Estou convencido que muitos não entram na OFS porque
tudo é estático, seco, sem vida, sem amanhã… Ninguém gosta de frequentar
espaços sem viço…
6.E você, com seu
Conselho, vão preparar da melhor maneira as reuniões, difundirão ânimo e vida
fraterna, criando o novo nas reuniões e motivando a todos a se engajarem na
vida apostólica (cf. CCGG 31,4).
7.Gostaria de chamar
atenção para a questão do acompanhamento da Fraternidade. Esse é um aspecto
fundamental. Ninguém pode faltar a uma reunião, sem motivo. A presença de todos
é sinal de senso de pertença. A ausência regular e os pedidos de afastamento
devem questioná-lo (a). O amor não pode ser fingido. Leia com o seu Conselho
muitas vezes 1Coríntios 13, 1-13. Há manifestações de amor no jeito de acolher,
no respeito pelas pessoas, no sigilo a ser guardado, na visita aos doentes, na
busca dos afastados, no evitar juízos precipitados, no fato de não se comentar
nada a respeito dos irmãos. Nunca será uma Fraternidade fechada, um ninho
quente, um refúgio de pessoas sem coragem. Você cuidará disso.
8.Fique atento para
que certos irmãos não “inventem” pertenças desnecessárias a outros grupamentos.
De repente, sem formação adequada, eles passam a borboletear de flor em flor e
não serão pessoas cristãmente realizadas. Cuide também que os ditos irmãos não
venham a se engajar demais na pastoral em detrimento sério da construção da
fraternidade.
9.Procure sondar se
houve ou há ressentimentos. Converse com o Assistente sobre o assunto. Lute
quanto puder para extirpar essa erva daninha do ressentimento que corrói os
relacionamentos em nossas Fraternidades que, infelizmente, podem ser espaços de
competição e de inveja. Os irmãos precisam se perdoar… Escrevo isso, mas sei
quanto é difícil.
10.Espero que você
esteja convencido (a) da importância de cada irmão. Não entro nos pormenores.
Ninguém pode ser esquecido, menosprezado, discriminado. Há dotes e talentos que
os irmãos e irmãs ainda não revelaram. Procure descobri-los. É sua missão olhar
com atenção “os irmãos que Deus lhe deu”. Sua Fraternidade se enriquecerá
quando puder contar com a colaboração criativa de todos. Não me canso de dizer:
nossa riqueza são nossas Fraternidades. A credibilidade da OFS depende da
qualidade da vida fraterna. Um documento de orientação de vida dos franciscanos
seculares franceses, anterior à Regra de Paulo VI, assim se exprimia: “Todo
homem é um dom do Senhor. Queremos reconhecer em cada um deles um irmão e nós
mesmos pretendemos agir como irmãos. Haveremos de nos dirigir a todos os homens
sem nos deixar desviar por considerações de raça, classe, ambiente social,
poder econômico, ideologia, cultura, religião ou moral. Recusamos condenar e
fazer julgamentos maldosos e ultrapassar todas as classificações nas quais o
homens costumam se fechar uns aos outros. Haveremos de manifestar respeito por
todos os homens. Acolher-los-emos. Prestaremos atenção às suas necessidades e
expectativas. Queremos trocar idéias com todos e com todos partilhar. Prestando
serviço aos irmãos haveremos de nos mostrar alegres e despretensiosos. Queremos
amá-los não em palavras, mas por meio de atos, persuadidos que somente o amor é
fonte de felicidade e de salvação, para eles e para nós”.
11.Sua Fraternidade
precisa ser ativa. Sei que os idosos podem pouco, mas podem um pouco. A Igreja
precisa dos irmãos e das irmãs. Fomos chamados a restaurar o tecido esgarçado
da Igreja, a reconstruir a Igreja. Que os irmãos não “ingressem” de qualquer
jeito em pastorais. Devem fazê-lo, mas com competência e de maneira aberta,
evangelicamente abertos. Que ninguém dos nossos irmãos são retrógrados,
ultrapassados, carolas, piegas….Não estou defendendo aqui uma adaptação
ilegítima aos tempos, mas tenho certeza que o Espirito está levando a Igreja e
a pastoral para novas direções. Deus nos livre que os franciscanos seculares
atravanquem a renovação…
12.Estou convencido
que você já está fazendo o que agora sugiro: reze todos os dias pelos seus
irmãos, seja um dezena do terço, seja uma parte do ofício franciscano. Ofereça
a Deus sacrifício pelos irmãos. Queria lhe pedir uma coisa, se fosse possível:
participe todos os dias da Missa.
13.Se de um lado os
irmãos farão, sob sua orientação, experiência de fraternidade, também farão uma
experiência de Deus. Queria lhe pedir com todo carinho: não deixe que os
retiros sejam meros encontros, sem silêncio, sem profundidade, sem dimensão de
interioridade. Não queremos Fraternidades compostas por pessoas superficiais. A
experiência de Deus se faz também através de dias ou de noites de recolhimento
sem muita papelada, sem muito barulho, sem muitos gritos estridentes. O Senhor
costuma falar na brisa suave. Atente para isso.
14.Não desanime
diante da fragilidade e do pecado do irmão. Leia com calma a Carta a um
ministro: “Nisto reconhecerei que amas realmente o Senhor e a mim, servo dele e
teu, se fizeres o seguinte: não haja irmão no mundo, mesmo que tenha pecado a
não poder mais, que, após ver os teus olhos, se sinta talvez obrigado a sair de
tua presença sem ter obtido misericórdia se misericórdia buscou”.
15.Fiquei sabendo de
uma Fraternidade, cujos irmãos passando pelas ruas, andam recolhendo trapos
humanos e tratando-os com todo carinho. Alguns deles começaram a participar de
reuniões da Fraternidade e hoje são simpatizantes. Em breve esses restos
humanos sentir-se-ão inseridos no cortejo dos penitentes franciscanos e serão
pessoas gratas para sempre.
16.Faça tudo como as
Constituições e Orientações nacionais ditam. Não negligencie nada… mas,
juntamente com o seu Conselho e sua Fraternidade, invente o novo, sem demora:
encontros para discutir os grandes problemas de hoje, grupos de oração do tipo
das oficinas de oração, presença aberta no mundo. Não se esqueça que o Espirito
quer que você e sua Fraternidade escrevam uma página nova.
17.Vou terminando.
Muito mais queria lhe dizer. Há mais dez anos venho me ocupando da OFS em nível
regional (Rio e São Paulo) e em plano nacional e penso que as palavras que
escrevi podem ser úteis a você, querido irmão ministro, querida irmã ministra.
Gostaria de terminar essa carta com um texto de João Paulo II, em mensagem
dirigida aos capuchinhos italianos por ocasião de Capítulo das Esteiras, 29 de
outubro de 2003. É um texto que fala da minoridade franciscana. Outros preferem
a expressão minorismo franciscano: “A minoridade comporta um coração livre,
desprendido, humilde, manso e simples, como Jesus nos propôs e como Francisco o
viveu; exige uma total renúncia de si mesmo e uma plena disponibilidade para
Deus e para os irmãos. A “minoridade vivida expressa uma força desarmada e
desarmante da dimensão espiritual da Igreja e do mundo”. E não somente isso! A
verdadeira minoridade liberta o coração e torna-o disponível para o amor
fraterno, cada vez mais autêntico, e que se dilata em uma ampla constelação de
comportamentos típicos. Favorece, por exemplo, um estilo caracterizado pelas
atitudes de simplicidade e sinceridade, de espontaneidade e concretude, de
humildade e de alegria, de abnegação e disponibilidade, de proximidade e de
serviço, especialmente com relação ao povo e às pessoas mais pequeninas e
necessitadas”. Você, meu caro (a) ministro (a) será muito feliz em sua missão
deixando-se impregnar desse espírito.
Um grande abraço, toda a estima e todos os bens.
(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFS
Assistente Nacional
da OFS pela OFM e Assistente Regional do Sudeste III