sexta-feira, 30 de novembro de 2012


A BÍBLIA E SUAS LEITURAS

Para nós, católicos, faz parte do ser Igreja de Cristo. Aceitamos os 21 Concílios Ecumênicos que já tivemos; o último deles acontecido entre l962 e l965. Aceitamos a Bíblia, a Tradição e suas interpretações feitas pelos bispos reunidos.
Os ortodoxos aceitam 7 concílios. A partir da separação no século XI, firmam-se nos seus sínodos. Para os evangélicos já é mais difícil. Cada Igreja que se intitula evangélica segue, com sua visão, a corrente cristã de muitos elos que se define como evangelismo. Apoiam-se em sínodos e conferências. Mas algumas delas aceitam os 4 primeiros concílios ecumênicos. A maioria das igrejas da corrente pentecostal firma-se na Bíblia e não reconhece nenhum concílio.
Assim, você, católico, encontrará evangélicos que aceitam algumas doutrinas em comum com os católicos, por exemplo, definições do Concílio de Nicéia. Aceitam nosso Credo porque subscrevem o texto Neceno-constantinopolitano. Não mais! Como as divisões aconteceram por divergência com os bispos e com o Papa é natural que não aceitem suas decisões nem suas definições. Ouvem os seus bispos e líderes.
Nós, católicos afirmamos que o nome “cristão” vem desde o século I na igreja de Antioquia, (At 11,26) e que a palavra “católico” veio com Santo Inácio de Antioquia, que usou pela primeira vez o termo “católico”, por volta dos anos 102-105. Mais tarde vieram os termos evangélico, protestante, pentecostal e outros nomes para designar correntes de cristianismo e igrejas não católicas. O nome “ortodoxo” passou a significar, para as igrejas orientais, uma volta às origens da fé cristã.
Foram dissensões e rompimentos dolorosos. Os concílios ecumênicos em geral foram fruto da necessidade de dialogar e unir, de corrigir conceitos ou de atualizar doutrinas e pastorais. Sem conhecer os fatos, os conflitos, as situações insanáveis que deram origem a movimentos, igrejas e catequeses diferentes da nossa corremos o risco de julgar superficialmente os irmãos de outras igrejas. Sem conhecer nossa história e nossos porquês, correm eles o mesmo risco. Cairemos no clichê e no preconceito que lá, bem no fundo, classifica de mau e desqualifica tudo o que não soa do nosso jeito.
Há hoje um esforço fraterno por parte das igrejas em ver os valores dos concílios, das conferências, dos sínodos de cada igreja e caminhar juntos naquilo que nos é comum. O Concílio Vaticano II foi muito claro a esse respeito: o papa e os bispos católicos querem diálogo e professam seu respeito por outras confissões de fé. Mas o mesmo se lê nos documentos de igrejas cristãs reunidas em sínodos e conferências: Lambeth, por exemplo. Há igrejas que aceitam normas e declarações de fé e há igrejas livres que se recusam a aceitar qualquer declaração formal de fé. Por essa razão não recitam conosco o Credo e, em alguns casos, nem o Pai Nosso.
Nosso magno problema não são as Escrituras e, sim, suas leituras. Um não aceita a leitura do outro e suas conclusões. Sendo concílios, sínodos e conferências uma espécie de leitura atualizada entende-se o conflito. Por enquanto, orar ajuda. Pelo menos já estamos lendo-nos e ouvindo-nos…
Pe. Zezinho, scj

segunda-feira, 8 de outubro de 2012


As mulheres da vida de Jesus

Elas protagonizaram passagens que definiram o cristianismo, estiveram com ele nas pregações e não o abandonaram no calvário. Saiba quem foram as representantes do sexo feminino que acompanharam Cristo em toda sua trajetória
João Loes


 “Cristo na Casa de Maria e Marta”,
de Alessandro Allori: as irmãs de Lázaro representam diferentes
modelos de mulher na nascente comunidade cristã 

Os homens dominam a história do cristianismo. A começar por Deus, o Pai, onipresente e onipotente, criador e não criadora, passando pelos 12 apóstolos, que não incluíam uma mulher sequer, e culminando com Jesus, Filho e não filha. Curiosamente, porém, são as mulheres que não só participaram como protagonizaram boa parte dos momentos cruciais da vida de Cristo. Da concepção à crucificação, enquanto homens traíam ou fingiam não conhecer o Messias, elas não se acovardaram diante das dificuldades. Mas quem são essas mulheres e por que elas são importantes? E como, hoje, as cristãs batalham para encontrar mais espaço dentro da Igreja? 

Com a leitura dos Evangelhos como relatos simbólicos aliada ao estudo histórico do tempo de Cristo, é possível resgatar o protagonismo de algumas mulheres na vida de Jesus. “Cada época lê os Evangelhos de uma maneira”, resume Stephen Binz, biblista formado pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, e autor do livro “Mulheres nos Evangelhos: Amigas e Discípulas de Jesus”, a ser publicado nos Estados Unidos em janeiro de 2011. “E as verdades e conclusões tiradas do texto derivam da vida e das prioridades de quem o lê.”



“A Noite Sagrada”,
de Carlo Maratta: Maria muitas vezes não compreendeu a
mensagem do filho. Mas tinha uma devoção radical por ele 

A visão feminina do Novo Testamento sempre existiu, mas o estudo sistematizado com vistas às revisões do papel da mulher na vida e no legado de Jesus é mais recente. O que se convencionou chamar de teologia feminista nasceu com os movimentos pelos direitos das mulheres nos anos 60, quase dois mil anos depois da reunião dos textos que compõem a segunda parte da Bíblia. “Prevaleciam, e ainda prevalecem, em muitos lugares interpretações dos textos que justificavam a subjugação da mulher”, conta Yury Puello Orozco, teóloga feminista do departamento de Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Às perguntas que buscavam a justificação da existência do mal, por exemplo, convencionou-se afirmar que a culpa era da mulher, que, na figura de Eva, no Antigo Testamento, cedeu às tentações do diabo e comeu o fruto da árvore proibida. “Se as mulheres eram fracas e sugestionáveis como alguns dizem, por que foram elas as testemunhas de momentos-chave do cristianismo, como a morte e a ressurreição de Cristo?”, questiona Yury. “Os apóstolos, na hora do aperto, foram incrédulos e fugiram, enquanto as mulheres permaneceram ao pé da cruz”, lembra. 

Uma das que continuaram lá, firme e forte, foi Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, reconhecida como a figura feminina mais importante na vida de Cristo. Não só por estar ali, em um dos momentos de maior aflição do filho que era dela e de Deus, mas por toda sua história ao lado do Messias. “Ela não foi só mãe carnal, foi mãe moral e psicológica”, lembra frei Clodovis Boff, teólogo, filósofo e mariólogo com formação pela Universidade Católica de Leuven, na Bélgica. Segundo Boff, um dos documentos publicados ao final do Concílio Vaticano II (1962-65), o famoso encontro de bispos do mundo inteiro que soprou ventos de modernidade na Igreja, sintetiza bem a natureza excepcional da devoção de Maria. “Diz-se que ela foi uma mulher que peregrinou na penumbra da fé”, afirma o teólogo. Mesmo sem compreender tudo que seu filho dizia e fazia, ela acreditou na palavra de Deus e seguiu dando espaço para que Jesus passasse sua mensagem. “A proposta de Cristo era uma coisa misteriosa, chocou todo mundo e a ela também, mas ainda assim ela o acolheu”, explica.



“Verônica Segura a Mortalha Sagrada”,
de Simon Vouet: a desconhecida que virou 
santa por ter enxugado o suor de Cristo

São muitos os momentos na vida de Nossa Senhora que mostram extrema confiança no projeto divino, mas alguns merecem destaque. Um deles é a anunciação, quando o anjo Gabriel conta a Maria, virgem e noiva de José, que ela conceberia um bebê mantendo-se casta e que esta criança, que deveria se chamar Jesus, reinaria para sempre como Filho do Altíssimo. Diante da grandeza do que foi dito, Maria, embora assustada, aceitou o anúncio como a vontade de Deus e se colocou à disposição do projeto. É difícil imaginar o peso que essa mulher aceitou carregar. Jovem, pobre e prometida em casamento, ela estava grávida em um mundo onde a mulher adúltera – e essa suspeita recaiu sobre ela – era condenada publicamente à morte por apedrejamento. “E ela não assume esse papel como uma testemunha passiva da vontade divina”, lembra Luiz Alexandre Solano Rossi, pós-doutor em teologia e em história antiga. “Maria vive a missão ativamente e trabalha para que ela dê certo.” 

Para Rossi, a visita de Maria à prima, também grávida, por intercessão divina, Isabel, no sexto mês de sua gestação, é exemplo claro da disposição da mãe de Cristo em participar do projeto de Deus e não apenas acompanhá-lo como espectadora. “É um prenúncio do protagonismo que ela terá na vida do filho”, afirma. A visita também tem um papel simbólico que fará de Isabel outra mulher importante na vida de Jesus, embora não se saiba se eles se conheceram pessoalmente. Foi no encontro com Maria que Isabel confirmou o projeto de Deus à prima ao anunciá-la como bendita entre as mulheres, além de bendizer o fruto de seu ventre. Para alguns exegetas bíblicos, estudiosos que esmiúçam o que diz o livro sagrado católico, a visita tem forte valor simbólico. Isabel, idosa e estéril, mas grávida de João Batista, representaria o passado que abre caminho e dá as boas-vindas ao novo, que é Maria, jovem e grávida de Jesus. “Entre os tradicionais e partidários mais radicais do judaismo, há quem diga que o Messias, na realidade, seria João Batista e não Jesus, já que o vínculo com o passado judaico do primeiro é mais forte que o do segundo”, afirma Rafael Rodrigues da Silva, professor de teologia da PUC-SP.
 

“Maria Magdalena”,
de Giovanni Pietro Rizzoli: a preferida de Jesus, escolhida por
ele para anunciar a ressurreição, símbolo máximo do cristianismo

As dúvidas sobre o messianismo de Jesus o acompanharam sempre. Já adulto, durante suas peregrinações, Cristo teve de lidar inclusive com a desconfiança de homens de seu círculo mais íntimo. Com as mulheres que também o seguiam, porém, a situação era diferente. Do pouco que se sabe delas, fica claro que viviam a fé de forma plena. “Elas ajudavam a arcar com os custos do ministério de Jesus e a tocá-lo adiante sem questionamentos, o que mostra uma obediência saudável e importante naquele momento”, conta Binz, o biblista. O autor lembra ainda quão estranho devia ser, na época, ver um profeta circulando com um grupo de seguidores que incluía um número razoável de mulheres. Afinal, o gênero feminino, como os estrangeiros, os pobres e os doentes, vivia à margem da sociedade. 

Mas era na margem que Jesus caminhava e foi lá que ele encontrou outra mulher que seria fundamental em sua vida: Maria de Magdala, também conhecida como Maria Madalena. Exorcizada por ele de sete demônios, ela passou a segui-lo e se tornou seu braço-direito no ministério. Jesus deu inúmeras demonstrações de confiança a Maria Madalena – boa parte registrada nos evangelhos canônicos e outra contada nos chamados apócrifos, escritos que datam quase em sua totalidade do século III, mas que não foram incluídos na “Bíblia”. Ela é chamada de apóstola dos apóstolos, por exemplo, e chega a despertar ciúmes nos homens que seguem Cristo. A mais poderosa das demonstrações de confiança do Messias em Madalena, e, por extensão, nas mulheres, foi o fato de tê-la escolhido para ser a primeira testemunha de sua ressurreição, o momento definidor da fé católica. Foi ela quem viu e anunciou aos apóstolos que Jesus havia aparecido a ela ressuscitado.
A predileção de Cristo por Maria Madalena é tamanha que ela semeou especulações de que ambos teriam se envolvido romanticamente. A tese foi explorada, virada e revirada nos últimos dois mil anos e certamente continuará rendendo histórias, como a contada por Dan Brown no best seller “O Código da Vinci”, de 2003. Em certa medida, a recusa em aceitar que não houve romance entre os dois mostra que a natureza da mensagem de amor incondicional não necessariamente romântico de Jesus continua sendo revolucionária e de difícil compreensão. “A figura de Maria Madalena traz uma crítica aos códigos de pureza e mostra, na prática, o quanto a mensagem de amor de Jesus é para todos”, explica o padre Marcio Fabri dos Anjos, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma.
E cada um vive a devoção à sua maneira. A história de outras duas mulheres próximas de Jesus na “Bíblia” é exemplo disso. Marta e Maria, irmãs de Lázaro, têm dois encontros importantes com o Messias. E o primeiro é representativo das diferentes naturezas que a fé pode ter. Nele, as mulheres recebem Jesus, que circulava pela região de Betânia, na casa onde moravam. Ao ver o Messias, Maria abandonou os afazeres domésticos e se sentou aos pés de Cristo para ouvi-lo. Na tradição de então, sentar aos pés de alguém é postura clássica do aluno diante do mestre. Já Marta repreendeu a irmã e Jesus por tê-la deixada sozinha com as obrigações do lar. “Há quem coloque as duas em oposição – uma certa e outra errada”, explica o teólogo Rossi. “Na verdade as atitudes se complementam.” Maria representaria a porção contemplativa da fé, enquanto Marta a prática.
Nem todos, porém, concordam com esse entendimento do episódio. Os defensores do protagonismo de Maria sobre Marta argumentam, por exemplo, que, ao se sentar aos pés de Jesus, ela questiona a função feminina, abandonando as regras que a amarravam aos afazeres domésticos. A outra, alheia à boa nova, continuaria muito ligada às tradições com as quais Jesus pretendia quebrar. Ainda assim, dizem os ardorosos defensores de Marta, sobraria uma função importante para ela. Sendo dela a responsabilidade sobre o lar – e o lar, na igreja primitiva, era onde a fé cristã era praticada clandestinamente –, ela surgiria como a grande autoridade do espaço de fé. “Em última instância, essas mulheres são importantes por que mostram que não existe só um modelo de mulher na nascente comunidade cristã”, lembra Rossi. “Elas têm liberdade para escolher o que querem ser.” 

“A Ressurreição de Lázaro”,
de Andrea Vaccaro: Maria representa a contemplação
e Marta a prática cristã

Foi esse espírito que fez engrossar a fileira de mulheres conhecidas e desconhecidas que acompanharam Jesus do início de sua peregrinação à crucificação. Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas são explícitos quanto à numerosa presença feminina na paixão e ao pé da cruz. A importância delas, aliada ao fato de que muitas não foram identificadas, alimentou uma verdadeira fábrica de lendas sobre o papel que elas tiveram nesses momentos definidores. Uma dessas narrativas conta a história de uma desconhecida que teria enxugado o suor do rosto de Cristo com um pedaço de tecido no caminho do Calvário. O pano teria ficado marcado com as feições de Jesus, antecipando o que aconteceria com o manto mortuário, reconhecido atualmente como Santo Sudário, a principal relíquia católica. Já a tal mulher desconhecida entrou para a história como Santa Verônica, nome atribuído a ela por significar “imagem verdadeira”. 

Era de se esperar que o Novo Testamento – cujos principais textos foram redigidos por quatro homens nascidos e criados em uma cultura eminentemente patriarcal – pouco dissesse sobre as personagens que foram decisivas na trajetória de Cristo. Pudera, na dura descrição de Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), filósofo e cronista do tempo de Jesus, as mulheres estavam à frente apenas dos animais na estrutura social. Mas, contrariando a lógica de então, os relatos de Mateus, Marcos, Lucas e João, compilados entre os anos 30 d.C. e 80 d.C., dão enorme importância à presença feminina. Especula-se que a proximidade temporal da influência de Jesus – que não fazia distinção entre homens, mulheres, ricos ou pobres –, associada à expectativa real de que o Messias retornaria em breve a terra para julgar os vivos e os mortos, povoasse o imaginário dos redatores dos evangelhos.
Com o passar do tempo, porém, o distanciamento das fontes primárias e a institucionalização da Igreja, o que se viu foi o contínuo afastar da presença feminina da vida e do legado cristão, de modo a espelhar a cultura patriarcal de onde ela veio. Um abandono lento, mas persistente do radicalismo inclusivo pregado por Jesus. “A organização e a hierarquização acabaram com o pluralismo das primeiras comunidades cristãs”, argumenta Silva, da PUC.
Mas o legado feminino deixado pelas mulheres contemporâneas de Jesus tem valor inestimável. Serviu de referência para o corpo de fiéis que começou a se formar nos primórdios do cristianismo e nos últimos dois mil anos teve papel fundamental na criação da identidade católica. O que começou com figuras com Lídia de Tiatira e Tecla de Icônio foi terminar em Madre Teresa de Calcutá, passando por Santa Teresa D’Ávila e Santa Juana Inês de la Cruz. Embora as mulheres ainda não gozem do prestígio e reconhecimento que tinham nos tempos de Cristo, a força das histórias daquelas que viveram a fé de forma plena, por meio de atos e palavras, deixou sua marca e continua estimulando mudanças estruturais. “Em pleno século XXI, temos uma igreja que, no que diz respeito às mulheres, ainda está na Idade Média”, protesta a teóloga feminista Yury Orozco. Vale ressaltar que os protestantes estão muito mais evoluídos neste quesito, com bispas ordenadas, inclusive. Que a luta pelo reconhecimento feminino, que já tem dois mil anos, não precise continuar por mais dois mil anos. Mas, se for esse o caso, não há nenhum sinal de que as mulheres vão esmorecer. E isso é ótimo. 

sábado, 22 de setembro de 2012


A dimensão do profundo: o espírito
Leonardo Boff*


O ser humano não possui apenas exterioridade, que é sua expressão corporal. Nem só interioridade, que é seu universo psíquico interior. Ele vem dotado também de profundidade, que é sua dimensão espiritual.

O espírito não é uma parte do ser humano ao lado de outras. É o ser humano inteiro, que por sua consciência se percebe pertencendo ao Todo e como porção integrante dele. Pelo espírito temos a capacidade de ir além das meras aparências, do que vemos, escutamos, pensamos e amamos.  

Podemos apreender o outro lado das coisas, o seu profundo.  As coisas não são apenas "coisas". O espírito capta nelas símbolos e metáforas de uma outra realidade, presente nelas mas que não está circunscrita a elas, pois as desborda por todos os lados. Elas recordam, apontam e remetem à outra dimensão a que chamamos de profundidade.

Assim, uma montanha não é apenas uma montanha.  Pelo fato de ser montanha, transmite o sentido da majestade.  O mar evoca a grandiosidade, o céu estrelado, a imensidão, os vincos profundos do rosto de um ancião, à dura luta da vida e os olhos brilhantes de uma criança, o mistério da vida.
É próprio do ser humano, portador de espírito, perceber valores e significados e não apenas elencar fatos e ações.  Com efeito, o que realmente conta para as pessoas não são tanto as coisas que lhes acontecem, mas o que elas significam para suas vidas e que tipo de experiências marcantes lhes proporcionaram.

Tudo que acontece carrega, existencialmente, um caráter simbólico, ou podemos dizer até sacramental. Já observava finamente Goethe: ”Tudo é passageiro não é senão um sinal” (Alles Vergängliche ist nur ein Zeichen”). É da natureza do sinal-sacramento tornar presente um sentido maior, transcendente, realizá-lo na pessoa e fazê-lo objeto de experiência. Neste sentido, todo evento nos relembra aquilo que vivenciamos e nutre nossa profundidade.

É por isso que enchemos nossos lares com fotos e objetos amados de nossos pais, avós, familiares e amigos; de todos aqueles que entram em nossas vidas e que tem significado para nós.  Pode ser a última camisa usada pelo pai que morreu de um enfarte fulminante com apenas 54 anos, o pente de madeira da avó querida que faleceu já há anos ou a folha seca dentro de um livro, enviada pelo namorado cheio de saudades. Estas coisas não são apenas objetos; são sacramentos que nos falam para o nosso profundo, nos lembram pessoas amadas ou acontecimentos significativos para nossas vidas

O espírito nos permite fazer uma experiência de não dualidade, tão bem descrita pelo zenbudismo. “Você é o mundo, é o todo” dizem os Upanishads da Índia enquanto o guru aponta para o universo.  Ou “Você é tudo”, como muitos iogues dizem.  “O Reino de Deus (Malkuta d’Alaha ou ‘os Princípios Guias do Todo) está dentro de vós”, proclamou Jesus.  Estas afirmações nos remetem a uma experiência viva ao invés de uma simples doutrina.

A experiência de base é que estamos ligados e religados (a raiz da palavra religião) uns aos outros e todos com a Fonte Originária.  Um fio de energia, de vida e de sentido passa por todos os seres tornando-os um cosmos ao invés de caos, uma sinfonia ao invés de cacofonia. Blaise Pascal que além de genial matemático era também místico, disse incisivamente; “É o coração que sente Deus, não a razão” (Pensées, frag. 277).  Este tipo de experiência transfigura tudo.  Tudo se torna permeado de veneração e unção.

As religiões vivem desta experiência espiritual. Elas são posteriores a ela. Articulam-na em doutrinas, ritos, celebrações e caminhos éticos e espirituais.  Sua função primordial é criar e oferecer as condições necessárias para permitir a todas as pessoas e comunidades mergulharem na realidade divina e atingir uma experiência pessoal do Espírito Criador.

Esta experiência, precisamente por ser experiência e não doutrina irradia serenidade e profunda paz, acompanhada pela ausência do medo.  Sentimo-nos amados, abraçados e acolhidos pelo Seio Divino.  O que nos  acontece, acontece no seu amor.  Mesmo a morte não nos mete medo; é assumida como parte da vida, como o grande momento alquímico da transformação que nos permite estar verdadeiramente no Todo, no coração de Deus. Precisamos passar pela morte para viver mais e melhor.

*Leonardo Boff é autor de 'Espiritualidade: caminho de realização' (Vozes, 2003).

sábado, 8 de setembro de 2012


É tempo de aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus

Dom Orani João Tempesta*

 Desde 1971, o mês de setembro na Igreja do Brasil é quando se enfatiza e se busca aprofundar ainda mais nossa relação com a Palavra de Deus, a Bíblia. Porém, não significa dizer que a Bíblia deva ser lida ou aprofundada apenas nesse período. Ela é um livro de cabeceira, deve estar presente em todos os momentos de nosso dia, orientando-nos, formando-nos, transformando-nos. Ela é luz para o nosso caminhar. Este mês, portanto, é um esforço comum de nossas paróquias e dioceses de aprofundarem juntos algum tema ou livro da Palavra de Deus, útil para nosso crescimento comunitário e pessoal, em vista da comunidade cristã que queremos ser.
A palavra Bíblia é que dá origem à palavra biblioteca, e expressa a realidade de ser o texto sagrado um "conjunto de livros". Ler a Palavra de Deus é uma expressão coerente de nosso caminho, que busca encontrar e fincar raízes na fé e na construção ativa do Reino de Deus. Somos convocados a uma experiência maior e mais profunda com Cristo, Palavra eterna do Pai, na comunidade, na família, na sociedade.

Por que setembro foi o mês escolhido para o aprofundamento da Palavra de Deus? Devido à celebração do dia de São Jerônimo, no dia 30. Ele viveu por volta do ano de 340 e foi a ele confiada, pelo papa Dâmaso, a tradução latina da Sagrada Escritura. Essa tradução da Palavra para o latim ficou conhecida como a bíblia Vulgata, que significa "popular". Essa tradução foi tão rica e significativa que é usada até hoje em muitas traduções da Bíblia.

Uma das frases mais célebres de São Jerônimo foi: "Desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo". Uma frase fundamental para nós, cristãos, que buscamos conhecer, contemplar e seguir a Palavra de Deus contida nas linhas sagradas dos textos bíblicos. Ninguém ama aquilo que não conhece. Portanto, seria impensável imaginar alguém que se diga cristão, mas não busque conhecer e aprofundar a Palavra de Deus. Como chegar ao conhecimento da Revelação e de sua plenitude em Jesus Cristo se desconhecemos sua Palavra e ensinamentos, ordens e ações? 
Muitas são as possibilidades oferecidas pela Igreja para aprofundarmos nosso conhecimento da Palavra de Deus. Elas vão desde os estudos filosófico-teológicos, que buscam investigar o máximo possível toda a riqueza e significados que o texto nos pode proporcionar, seja pela exegese, pela hermenêutica, ou ainda pelas outras disciplinas bíblicas oferecidas nos institutos filosófico-teológicos, até os populares círculos bíblicos, grupos de estudo da Palavra, catequese e a leitura orante da Bíblia (lectio divina).

 A Bíblia está dividida em duas partes, como todos sabem: Antigo e Novo Testamento. Ela é composta de 73 livros, sendo 46 livros do Primeiro Testamento e 27 do Segundo Testamento. A leitura constante e assídua da Palavra de Deus vai ajudando aos poucos as pessoas a descobrirem toda a riqueza que ela contém, bem como o bem que ela pode realizar na vida de cada fiel.
A Bíblia trata da nossa salvação. Por isso, dentro dela encontramos muitos assuntos pertinentes e desejados pelo homem na busca constante da verdade, a relação terna e direta com Deus, o rompimento dessa amizade com Deus pelo pecado, a Aliança de Deus com seu povo, a história dos patriarcas e profetas, a encarnação do Verbo Divino, Jesus Cristo, plenitude da história da salvação, a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes, e se estende até a parusia, no final dos tempos, quando, enfim, todo poder lhe será submetido, e, então, assentado em trono, Rei vitorioso, virá uma segunda vez e instaurará definitivamente seu Reino de paz e amor, bondade e justiça, mansidão e misericórdia.

O centro de toda a Escritura se dá em Jesus Cristo, a máxima expressão da revelação e da bondade de Deus, que a todos quer que cheguem ao conhecimento da Verdade, que é Cristo. Em Jesus se cumprem todas as promessas feitas pelo Pai no Antigo ou Primeiro Testamento aos profetas e a todo o Israel de Deus. Jesus é a plena revelação da vontade do Pai para a salvação dos homens e a construção do Reino. Tudo que ele faz diz de quem ele é. Tudo que ele  é manifestado nas obras que realiza. Lendo as Escrituras, encontramos um caminho sólido e seguro no conhecimento da vontade de Deus. Cristo é a Palavra viva de Deus, e todas as palavras do texto sagrado, portanto, têm sentido pleno e definitivo nele.
Neste ano, o mês da Bíblia quer aprofundar ainda mais o texto do Evangelho de Marcos. O tema sugerido é Discípulos missionários, a partir do Evangelho de Marcos, e o lema: Coragem levanta-te, ele te chama! (Mc 10,49). Nos próximos anos serão estudados os outros três evangelistas. O enfoque será no seguimento de Jesus, proposto nos quatro evangelhos. Este tema reunirá tanto a proposta de Aparecida, que enfatiza o discípulo missionário e a missão continental, como a proposta do papa Bento XVI, sobre a nova evangelização, que é o tema do Sínodo dos Bispos no próximo mês.

Que esta seja uma oportunidade para conhecermos melhor a Palavra de Deus, a pessoa de Jesus e a proposta de seu Reino, para construirmos juntos, a partir dele, novos céus e nova terra, onde todos possamos viver como irmãos na Unidade da Trindade e na diversidade de carismas e ministérios, em torno de um único e verdadeiro Senhor: Jesus Cristo.
Que a Palavra de Cristo continue a iluminar todas as nossas realidades humanas e nos encaminhe para a eternidade feliz, e que Maria, mãe do Verbo encarnado, nos ajude a conceber todos os dias a Palavra de seu Filho que é criadora, nos leva à salvação e à plena realização humana, que é a felicidade, o bem e a verdade contidos na pessoa de Cristo.

 *Dom Orani João Tempesta, cisterciense, é arcebispo do Rio de Janeiro.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Por que perdoar é uma escolha sábia
Emilce Shrividya Starling
"A maior vitória sobre um inimigo é perdoá-lo. Quando você o perdoa, ele morre dentro de você e deixa de lhe perturbar”.
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A capacidade de conceder o perdão completo não acontece de maneira rápida ou facilmente. É uma virtude que deve ser cultivada por muito tempo. E para isso precisamos compreender o que é o perdão.
O perdão não é botar panos quentes e dizer: “Tudo bem. Nem fiquei magoado. Está tudo bem.”.
É preciso fazer um trabalho interno de contemplação e libertação.
Você precisa ter coragem de examinar seus pensamentos, sentimentos, ações e as consequências que criam. Não deve agarra-se a elas e sim ter o poder de renunciar a elas e entregá-las a Deus.
Precisa desistir de ser vítima do outro que lhe fez algo prejudicial e não chorar como uma vítima ofendida. Mas o perdão não substitui o arrependimento. Tanto você como a outra pessoa precisam sentir arrependimento e ver os próprios erros.
O perdão é uma escolha sábia. O perdão é uma bênção tanto para quem recebe como para quem concede.

Como diz o poeta Vogue Kabir:

 “Se alguém trata você mal uma vez e você reage tratando-o mal, então, um maltrato vira dois. Entretanto, se você não o maltratar em retribuição, o maltrato continua sendo apenas um.”.
Esse é um conselho sábio, mas difícil de ser seguido. Para aplicá-lo, você precisa ter força no coração que vem da sabedoria do Ser interior. Compreenda que o perdão se torna cada vez mais difícil se você multiplicar as ofensas, as provocações e se reagir ao mal-entendido com mais mal-entendido.
Às vezes, você pode ter a tentação de responder às ofensas e achar que isso lhe fará sentir mais leve depois. Mas não é verdade, pois ao revidar, você está criando dor para si mesmo. Você obscurece sua mente com nuvens pesadas de rancor e fecha seu coração para o amor.
Quando você perdoa ou nem guarda mágoas, você faz bem a você mesmo. Você demonstra gentileza a si mesmo e reconhece a grandeza de sua alma.
O perdão existe primeiro para aquele que perdoa, porque lhe libera de sentimentos negativos que iam destruir sua paz e acabar com sua alegria.
O perdão tem muita força e dissolve a raiva, que é o nosso maior inimigo na Terra. Um coração que perdoa é forte e nobre e está mais próximo de Deus. Somente os fortes e sábios perdoam.
Muitas pessoas não querem nem pensar em perdoar e ficam muito apegadas à raiva. Elas preferem sofrer com essa atitude rancorosa, pois é difícil abandonar esse apego à raiva.
Na maioria das vezes, elas guardam ressentimentos, sentem amargura, decepção e desamparo. Elas carregam uma bagagem pesada que tira o sabor da vida. Entenda que você não pode perdoar e, ainda assim, guardar antigas mágoas na sua memória.
Não é possível carregar o fardo da raiva e ser alegre ao mesmo tempo. Se você estiver apegado aos seus velhos rancores, você não é capaz de perdoar e fica se torturando com seus próprios pensamentos, tornando-se seu próprio inimigo.
A maior vitória sobre um inimigo é perdoá-lo. Quando você o perdoa, ele morre dentro de você e deixa de lhe perturbar.
O perdão precisa fluir do coração e não pode ser apenas um exercício mental. Perdoar alguém não é apenas lhe dizer: “Eu lhe perdoo”. É necessário revelar o perdão através de suas ações, gestos e sentimentos.
Quando você realmente alimenta a força do perdão, uma verdadeira alquimia acontece em seu interior e você se sente livre e muito bem.
Cultive essa nobre virtude do perdão por muito tempo e permita que o sentimento libertador de perdoar dissolva toda sua dor, abrindo caminho para a paz interior.
Quando você já perdoou, essa nova energia o faz sentir cada dia melhor e sua vida se abre. Você respira melhor, aprecia o ambiente à sua volta, admira as folhas das árvores, a luz do sol, a beleza das ondas do mar. Você se abre para ver as qualidades das pessoas e atrai melhores oportunidades para sua vida.
Quando o perdão acontece, ele emana do espaço da sabedoria. Ele simplesmente acontece e você já nem precisa mais pensar em perdão porque você possui sabedoria e conhecimento.
Deus não está julgando e nem punindo você. Ele é pura sabedoria, pleno de misericórdia, amor e compaixão. Você é que tem que parar de se punir com seus pensamentos e suas ações. Parar de guardar mágoas em seu coração.
Compreenda que única escolha sábia é o perdão e sinta-se completamente livre. Permita a si mesmo lembrar-se de sua própria divindade interior. Sinta compaixão, que é um ato de tolerância onde reina a bondade e o perdão.
 Namastê! Deus em mim saúda Deus em você! Fique em paz!

terça-feira, 14 de agosto de 2012


“Quando orardes, não useis muitas palavras…”. Eclo 48,1-15 – Sl 96 – Mt 6,7-15

Somos eternos aprendizes na arte da oração. Muitos de nós, desde a nossa mais tenra infância, aprendemos a rezar. Por vezes, infelizmente, uma certa catequese superficial foi formando pessoas que mais rezavam com os lábios do que com o coração. Ainda hoje tem seu valor a recriminação de Jesus a respeito do que honram o Altíssimo com os lábios. Estamos convencidos de que precisamos reformar seriamente e constantemente nossa vida de oração. Digo bem: trata-se de uma vida de oração. Sabemos perfeitamente que a mera multiplicação de palavras não faz a oração ganhar em qualidade.
Algumas orientações para que possamos nos aperfeiçoar na arte da oração:
• Importante adquirir o hábito de caminhar na presença do Senhor. Trata-se de um expediente antigo dos mestres de espiritualidade. Mesmo quando não estamos no exercício da oração o Senhor nos olha, nos vê, acompanha nossos passos. Muitos ainda hoje conservam o hábito de dirigir a Deus, nas caminhadas, na condução, no trabalho, uma jaculatória ao Senhor: “Meu Deus e meu Tudo”; “Meu Senhor e meu Deus”; “Coração de Jesus que tanto me amais, fazei que eu vos ame cada vez mais”.
• Ajuda o fervor da oração a prática do silêncio. As pessoas que passam um tempo em silêncio sentem mais facilidade para rezar. A frequentação dos salmos e das páginas das Escrituras, no silêncio, tornam menos áridos os momentos de oração. Muitos e muitas chegaram a uma intensa vida de oração através da recitação incessante e sempre nova dos salmos, esse livro que foi feito pelo Espírito.
• Não se pode rezar apenas quando se experimenta “calor” no interior. A oração requer perseverança e fidelidade. Mesmo nos momentos de secura interior e de aridez dolorosa será preciso permanecer diante do Senhor como um vigia que não desiste de guardar a porta da casa.
• Nunca haveremos de nos esquecer que é o Espirito que reza em nós. Podemos e devemos preparar o “terreno”, ou seja, levar uma vida reta colocarmo-nos na presença do Senhor, tomar os textos inspirados, mas sempre quem reza em nós é o Espírito.
• Prática importante de oração é a da meditação: colocar-se na presença do Senhor, ler um texto, deixar a Palavra penetrar, ruminar aquilo que o Senhor nos fala.
• Muitos gostam de rezar com canto. Há essas melodias inspiradas: um dolente pedido de perdão, uma exultação gloriosa diante do Senhor, um grito de súplica. Muitos, ainda em nossos dias, gostam de rezar cantando as melodias do canto gregoriano.
• Há momentos determinados para a oração: manhã, tarde, noite. Temos que ser fiéis a eles. Importante que assim, aos poucos, nossa vida toda se torne uma existência de oração. É isso que conta.

Frei Almir Guimarães

sábado, 28 de julho de 2012


A ONDA RELIGIOSA



Perguntaram-me dois jornalistas de periódico do interior se, como sacerdote católico, não me preocupava o fato de que naqueles dias Lula, católico declarado e amicíssimo de Frei Beto, se abrira mais para os evangélicos; de o seu vice ser de um partido majoritariamente evangélico e ainda, se não me preocupava o crescimento deles e o encolhimento da Igreja Católica.

Pedi tempo para não responder em apenas uma sentença. O assunto é fundamental e a resposta não cabe numa frase de efeito. Entre outras coisas eu disse citando Bento XVI que as estatísticas não devem ser a preocupação número um da Igreja e sim o conteúdo da sua mensagem, nem que percamos por algumas décadas ou séculos.

Disse-o em outras palavras a Peter Seewald no livro “O Sal da Terra”. Também Jesus chamou os seus seguidores de pequeno rebanho. ((Lc 12,32) Por um tempo, certos grupos de extração evangélica e pentecostal eram o pequeno rebanho. Ultimamente estão menos pequenos, embora alguns andem maquiando a estatísticas para parecerem maiores do que são. Mas certamente cresceram e, pelo visto, crescerão muito. Espero que cresçam sadios e pacíficos, porque os religiosos donos da verdade, e isso inclui minha igreja, já criaram muitas guerras por espaço e por dominação.

É claro que me preocupa, mas inquieto-me bem menos pelo crescimento dos outros do que pela diminuição dos nossos. São irmãos e irmãs que preferem ouvir outros púlpitos, outros pregadores e outras garantias de salvação em Jesus, motivados por outros testemunhos e outras leituras do evangelho. Trocaram o padre pelo pastor. Preferiram outro rebanho. Aceitaram ser apascentadas por reverendos pastores em outros rebanhos porque acreditaram no seu discurso de que têm mais Cristo a oferecer. Talvez tenham. O tempo o dirá. O fato é que hoje eles acreditam mais nos bispos e pastores do eu- anguélion: (a boa nova) do que nos bispos e padres do cat-holou ( abrangente, para todos). Não querem mais o enorme colo da Igreja Católica e acham-se mais bem cuidados no colo às vezes pequeno de um rebanho pentecostal ou evangélico.

Como a vida e a fé tem vais-e-vens, nós que estamos no mundo há milênios e no Brasil há 500 anos sabemos a força e o poder do novo, contado e mostrado de um novo jeito, e através de poderosos novos veículos. Enfrentamos isso umas duzentas vezes com grupos dissidentes que nasceram entre nós e se tornaram igrejas sem nós ou contra nós.

O marketing religioso feito com grande competência por estes irmãos de outras igrejas certamente tem muito a ver com o seu crescimento. Se bancos, palhas de aço, sabonetes e cremes passam a ter milhões de compradores, e artistas, milhões de fãs, porque apareceram na mídia, porque não uma Igreja?

Se é certo ou errado é assunto para outra conversa. Por enquanto registre-se o fato: as igrejas que foram à mídia estão colhendo o resultado. Qual será o resultado do resultado daqui a 50 anos? Quem viver verá! Quanto à presença de pregadores da fé no Congresso e na política, o leitor já está vendo os resultados. Parece que os eleitos com o voto dos seus fiéis não têm se portado de maneira mais ética do que os outros. O nome de muitos deles estava lá ao lado de congressistas católicos nas acusações de malversação das verbas do povo. Pelo jeito nossas igrejas falharam na escolha dos seus fiéis que decidiram ingressar na política. Talvez falte em todas as igrejas uma catequese mais profunda sobre o quem é o dono dos bens de um país.
Pe. Zezinho, scj



sábado, 21 de julho de 2012


Ah, se eu pudesse voltar no tempo... 

 Se você tem mais de 60 anos, experimente, um dia, pôr no papel todas as coisas do passado que você se arrepende de ter ou de não ter feito. Não esqueça nenhuma. Terminada a tarefa, leia todas em voz alta e depois... Delete a lista, de preferência fisicamente e em um ritual (em uma fogueira, por exemplo) para conferir solenidade ao ato e dar a ele caráter celebrativo, de acerto final de contas com o passado. Para ser, definitivamente, a última vez que você perdeu tempo com essas coisas. O motivo? Ficar lembrando atitudes das quais nos arrependemos, e  com as quais já aprendemos, faz sofrer e é inútil. Adiantaria se, por acaso, viajássemos no tempo. Poderíamos, assim, no passado, tomar outra atitude, fazer uma opção diferente. Infelizmente, ou felizmente, ainda não inventaram tal recurso. E, mesmo se ele existisse ninguém garante que, passado novamente o tempo, não estaríamos, de volta ao futuro, arrependidos das novas atitudes tomadas. Logo, o melhor a fazer é queimar o arquivo morto da memória...

Não precisamos reescrever nossa história de vida para entendermos que as atitudes tomadas ontem, mesmo as sabidamente erradas, não podem ser redivivas. Se nós já nos arrependemos delas, nos conscientizamos que erramos e nos perdoamos, de nada adianta chorarmos sobre o leite derramado. O que passou, como dizem, passou. Em todo caso, chama a atenção o quanto essa lei da vida, tão irrevogável quanto à da gravidade, custa a ser aceita por pessoas com dificuldade em lidar com o passado. Não deveria ser assim e o psicólogo Alexandre Rivero, titular do Consultório de Psicologia e Ressignificação Humana, de São Paulo (SP), explica a razão. “Se eu não me perdoo, fico como que com um pesado saco de areia amarrado aos pés que impede de caminhar adiante e viver plenamente. O perdão, nesse caso, é a verdadeira ressignificação, ou a possibilidade, de olhar para uma velha situação já vivida com um novo olhar, renovado, sob uma perspectiva diferente”, alerta.

Terapia sem culpa – Muitas vezes, segundo os especialistas, a impossibilidade de se perdoar pode ser resultado de um quadro de depressão. Por isso, é preciso prestar atenção se a sensação constante de culpa vier acompanhada de outros sintomas clássicos dessa doença, como mudanças de humor, perda de interesse ou prazer nas atividades, ausência de autoestima, distúrbio de sono ou de apetite, falta de energia e de concentração. O que não é raro, diga-se, na terceira idade. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, a depressão acomete cerca de 15% da população de idosos do País.

Uma solução para dar fim ao remorso, ao sentimento de culpa e a renitente sensação de estar em falta com o passado pode ser uma terapia analítica. “Ela ajuda o idoso a aceitar a idade, suas limitações e a não se prender ao que deixou de ser feito, mas ao que ainda poderá fazer”, explica a psicóloga Amanda Spinicci Paiva, para quem a terapia, nessa fase da vida, não é perda de tempo. “A sociedade não vê sentido em cuidar dos problemas existenciais do idoso, pois acredita que ele não tem mais o que construir. Além disso, o próprio idoso pode entender que, já por ter vivido uma longa história de vida, não pode mudar seu rumo, o modo de pensar ou agir. Na realidade, porém, a terapia não tem como objetivo mudar o jeito do idoso, mas acolhê-lo, respeitá-lo e compreendê-lo, fazendo-o se aceitar e apresentando a ele maneiras diferentes de viver”, afirma.

Aprendizado – Não podemos, de fato, pensar que, por termos cabelos brancos ou já não termos mais cabelo algum, não estamos aptos a assimilar novos ensinamentos e ressignificar nossas vidas. É o que, novamente, nos compartilha o psicólogo Alexandre Rivero. “Se, no passado, fizemos uma determinada escolha, precisamos levar em conta que essa foi a melhor possível naquela situação e com a experiência que tínhamos até então; e não termos o desejo fantasioso e nostálgico de, aos 20 anos, por exemplo, termos agido com a experiência de uma pessoa de 60. Nossa experiência de vida é dinâmica e estamos constantemente aprendendo, seja lá a idade que tivermos”, explica o especialista.




quarta-feira, 11 de julho de 2012


Pequenas e grandes recomendações aos missionários

Oséias 11, 1-4. 8-9; Mateus 10,7-15

Eis o evangelho do envio dos apóstolos pelo mundo afora por parte de Jesus. Apóstolo quer dizer precisamente aquele que é enviado.

Na verdade na Igreja existe um duplo movimento. Os discípulos começam a conhecer o Mestre e vivem em comunidades. Rezam juntos, vivem juntos, sonham juntos, deixam-se iluminar pela Palavra, alimentam-se do Pão da Eucaristia. Esse primeiro movimento é indispensável. É o viver em comunidades de fé e de amor.

Logo depois vem o ir pelo mundo afora. Vem à dinâmica do anúncio de um fogo que se carrega no coração. Este não pode ser abafado e diminuído. Ele precisa queimar… Os missionários dedicam-se totalmente ao anúncio, num misto de empenho próprio e de confiança total naquele que os envia.

Há uma urgência. O reino está próximo. Alguns sinais da proximidade desse mundo novo: os doentes são curados, os mortos ressuscitam, os leprosos ficam limpos e não há mais domínio do demônio.

Os que partem, os que são enviados são aqueles que de graça receberam e de graça dão.

Não levam garantias terrenas, nem dinheiro, nem prata… Não levam roupas de reserva. Basta a túnica que lhes cobre o corpo. O operário é digno de sua recompensa, tem direito ao seu sustento.

Os que são enviados ficarão hospedados nas casas das pessoas. Deverão se informar se naquelas cidades há, de fato, pessoas dignas de receber esses generosos anunciadores do mundo novo. Que seus hospedeiros saibam que hospedaram a anjos.

Se as pessoas ouvirem a mensagem que continuem ali. “Se alguém não vos receber nem escutar vossa palavra, saí daquela casa e daquela cidade e sacudi a poeira dos vossos pés”.

Ontem e hoje a Igreja é essencialmente missionária. Tanto recebeu de graça, tanto precisa dar de graça.

Paulo VI, na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi assim se exprimiu: “ Enviada e evangelizadora, a Igreja envia ela própria evangelizadores. É ela que coloca em seus lábios a Palavra que salva, que lhes explica a mensagem da qual ela mesma é depositária, que lhes confere o mandato que ela mesma recebeu e que, enfim, os envia a pregar. E a pregar, não as suas próprias pessoas ou as suas ideias pessoais, mas sim um Evangelho do qual nem eles nem ela são senhores e proprietários absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer, mas de que são os ministros para o transmitir com máxima fidelidade” ( n. 15).

Frei Almir Ribeiro Guimarães

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Contiguamente Separado


Você já deve ter visto coisa semelhante, talvez aí mesmo na sua cidade. Mas há uma cidade que merece espaço para reflexão. Passo por ela algumas vezes. Numa das suas ruas há quatro lojas contíguas, separadas apenas por uma parede, todas as quatro lojas de roupas. Vendem roupas praticamente iguais, às vezes do mesmo fornecedor. Oferecem mais simpatia ou mais vantagens porque os produtos são praticamente os mesmos.
Na mesma rua há, também, quatro templos de quatro igrejas diferentes, separadas por não mais de três ou quatro metros cada uma. Apresentam o mesmo Cristo e pretendem ensinar a mesma fé, mas os fiéis de uma não frequentam a outra, enquanto que os fregueses de uma loja vão para a outra e às vezes até com recomendação da lojista vizinha; não tendo o produto elas indicam a loja ao lado. Há companheirismo ainda que competitivo.
O mesmo não fazem as igrejas. Em outras palavras: os lojistas são menos sectários que os pregadores e menos ciosos de seus fregueses. Aprenderam que a competição sadia é boa, mas o intercambio também é. Hoje eles indicam o produto de uma loja, amanhã a loja indicada apontará o produto deles.
As religiões não fazem o mesmo: é difícil um pregador aconselhar seu fiel a ir ouvir a pregação de outro, comprar o livro de outro autor. São ciosos do seu Cristo ou da sua versão do Cristo.
Soube por vizinhos e inclusive seguidores destas igrejas que nunca aconteceu de programarem uma reunião juntas, nem mesmo um almoço. E, no entanto quem prega o amor, a fraternidade, a unidade são esses templos e não as lojas…
Faz pensar o que vai pela mídia, televisão e rádio e o que vai pelos templos e pelas regiões centrais e periféricas de nossas cidades. As lojas parecem ser mais gentis e unidas do que os templos. Os comerciantes parecem muito mais capazes de diálogo do que os pregadores da fé. Aqui e acolá encontram-se pregadores ecumênicos, gentis e fraternos, abertos ao diálogo, capazes de admirar o outro. Mas não aposte em todos. Fundador de igreja nova ou novo templo quer mais é adeptos. Se puder pegar os da igreja vizinha é isso que ele vai fazer.
Prego a palavra de Deus há cinquenta anos e sei do que estou falando: a competição religiosa é muito mais forte que o cooperação religiosa. Sou dos otimistas que acha que um dia isso mudará, embora não venha a ser nos próximos dez anos. Mas há uma geração de padres e pastores dispostos a se encontrarem e dialogarem. Se eles o fizerem, seus fiéis também farão, até porque a maioria das discussões e brigas de fiéis nas ruas por causa de religião começaram nos púlpitos…
Se padres e pastores se dão bem, o povo se entende lá fora, se a pregação é deletéria, na base de igreja contra igreja; se for mentirosa, maliciosa, destruidora, deturpadora, usurpadora, demolidora e agressiva, os fiéis também serão.
Na cidade à qual me referi e naquela rua em particular, parece que os comerciantes conseguiram viver melhor o “amai-vos uns aos outros” do que os pregadores. Pelo que sei, as quatros lojas investem juntas no enfeite de natal, as igrejas, não! Quem pensa que inventei estes fatos ligue a televisão e o rádio e preste atenção nas pregações proselitistas
de alguns salvadores de almas para Cristo. Falam como se só eles existissem. Jesus não iluminou a mais ninguém. Que pena!
Pe. Zezinho, scj

terça-feira, 12 de junho de 2012


“A graça do silêncio”: reflexões a partir do capítulo quinto da Regra de Santa Clara

Por Frei Fábio Cesar Gomes

O capítulo quinto da Forma de Vida de Santa Clara como sugere o próprio título: “Sobre o silêncio, o locutório e a grade”, trata de questões que dizem respeito mais propriamente à índole contemplativa da vida das Irmãs Pobres. As várias determinações sobre portas, chaves, trancas, etc – também presentes no capítulo onze que trata da observância da clausura (cfr. rsc 11,3-7) – provêm das Regras papais e se justificam pelo fato de que o mosteiro de São Damião estava localizado fora dos muros de Assis e, por isso, muito exposto a invasões.

A originalidade de Clara neste capítulo da Forma de Vida, porém, aparece sobretudo no que diz respeito à sua compreensão de silêncio, sobre o que, num primeiro momento gostaríamos de concentrar nossa atenção para, logo em seguida, traçarmos alguns paralelos entre o pensamento dela e o de Francisco sobre o assunto. Por fim, muito brevemente, acenaremos para a pertinência do tema com relação a algumas questões levantadas nos Fóruns Provinciais.

Compreensão de silêncio em Clara

Ainda que Clara prescreva a observância da norma do silêncio em tempos e lugares bem determinados (cfr. rsc 5,1-2), a sua Regra não chega a proibir às irmãs o uso da palavra, como acontece, por exemplo, na Regra de Hugolino: “o silêncio contínuo seja constantemente observado por todas, de maneira que não lhes seja permitido falar nem umas com as outras nem com outras pessoas sem licença,…” (RHUG 6).

Pelo contrário, a Regra de Clara determina que as irmãs “podem insinuar o que for necessário sempre e em toda parte” (rsc 5,4), além de admitir que elas conversem com as pessoas externas ao mosteiro, no locutório e até – ainda que rarissimamente – também na grade (cfr. rsc 5,5-9). De fato, a norma do silêncio parece estar subordinada ao grande valor da convivência fraterna, em função da qual ela reconhece a necessidade e a importância da fala, especialmente na enfermaria, “em que as irmãs sempre podem falar discretamente para distrair as doentes e cuidar delas” (rsc 5,3).

Assim, podemos afirmar que para Clara, mais do que ausência total de palavras e rumores, o silêncio diz respeito a uma atitude fundamental de vida, ao modo de ser da escuta de Deus em todos os momentos e circunstâncias da vida. Trata-se, portanto, de cultivar o modo de ser da escuta como uma atitude fundamental da própria vida. Um modo de ser que se manifesta também no próprio modo de falar das irmãs: “discretamente”, “brevemente e em voz baixa” (rsc 5,3-4). É para a aquisição e conservação deste modo de ser por parte de cada irmã que a observância da norma do silêncio parece estar querendo apontar.

Compreensão do silêncio em Clara e Francisco: alguns paralelos

Ainda que a Regra de Francisco não determine, como a de Clara, os tempos e os lugares de se observar a norma do silêncio, isso não significa que ele não o considere importante. Pelo contrário, para Francisco o silêncio é tido como uma graça proveniente da prodigalidade do próprio Deus. Portanto, antes de ser uma conquista humana, o silêncio é uma dádiva divina que o frade deve esforçar-se por manter, por guardar (cfr. RNB 11,2; RERM 3). Assim, tal como para Clara, também para Francisco o silêncio, mais do que uma questão de calar ou falar, diz respeito à disposição daquele que, em todas as situações da vida, está continuamente preocupado em escutar aquela palavra que brota continuamente do âmago do silêncio abismal de Deus.

Além disso, é interessante observar que Francisco fala da “graça do silêncio” justamente naquele capítulo da Regra em que trata mais propriamente do relacionamento dos frades entre si, exortando-os a não se caluniarem nem porfiarem com palavras (cfr. RnB 11,2). Desta forma, o cultivo do modo de ser da escuta por parte de cada frade representa a condição de possibilidade de uma autêntica vida fraterna, enquanto nos previne das suas duas maiores ameaças: a calúnia e as discussões vãs. Aqui, é interessante perceber que, se para Clara – como vimos – o critério da caridade fraterna permite que o silêncio próprio da vida contemplativa seja rompido, para Francisco, é a mesma caridade fraterna a impor aos irmãos que vão pelo mundo que silenciem todo tipo de discussão e de julgamento (cfr. rb 3,11).

Mais ainda, assim compreendido como atitude fundamental de escuta, o silêncio não diz apenas respeito aos chamados à vida contemplativa, mas, também a nós que, desde as nossas origens, fomos enviados pela Igreja a pregar a todos a penitência (cfr. 1Cel 33,7; lm 3,10.11; 12; ltc 49,2; 51,10; ap 37,6). De fato, é interessante perceber que, na Carta a Toda Ordem, antes mesmo de nos exortar a darmos testemunho da voz do Filho de Deus e a anunciarmos a todos a Sua onipotência (cfr. CTORD 9), Francisco nos convoca a uma atitude de escuta atenta e de profundo acolhimento da Palavra de Deus (cfr. CTORD 6-7).

Por fim, tal como Clara, também para Francisco o modo de ser da escuta deve manifestar-se no nosso próprio modo de falar. E se isso vale para todos os frades, mais ainda para os pregadores, aos quais recomenda que “seja sua linguagem examinada e casta, para utilidade e edificação do povo, anunciando-lhe, com brevidade de palavra, os vícios e as virtudes, o castigo e a glória; porque o Senhor, sobre a Terra, usou de palavra breve” (rb 9,4-5). Neste contexto, a graça do silêncio manifesta-se num modo próprio de pregar segundo o qual não é o evangelizador – com sua eloquência – a colocar-se em evidência, mas, em cujo centro está sempre a pessoa de Jesus Cristo, aquele que “usou de palavra breve”, pois nos transmitiu somente as palavras que o Pai Lhe tinha confiado (cfr. Jo 17,8).

Relevâncias do tema

Na síntese dos nossos fóruns, falou-se em realizar a leitura orante da Palavra de Deus em fraternidade semanalmente e em celebrar o capítulo local mensal, privilegiando momentos de oração e de retiro. Até mesmo surgiu a proposta da revitalização do nosso eremitério a fim de acolher pessoas que demandam por retiro e recolhimento. Não estaria tudo isso revelando a necessidade de privilegiarmos tempos e espaços de silêncio exterior que nos possibilitem adquirir e conservar a atitude interior de escuta e acolhimento da voz do Filho de Deus (cfr. CTORD 6)?

No entanto, evidenciou-se, sobretudo a necessidade de redimensionarmos as nossas presenças, primando pela qualidade de vida fraterna em vista da evangelização. Aqui, a reflexão de Clara e Francisco sobre o silêncio nos parece bastante oportuna. De fato, o redimensionamento diz respeito a um processo que requer de cada um de nós, e de todos nós juntos, uma grande capacidade de fazer silêncio, um grande esforço “por manter o silêncio” (RNB 11,2; RERM 3), como diria Francisco. E isso, tanto no sentido de nos colocarmos à escuta daquilo que o Espírito do Senhor nos fala no momento presente da História, como no sentido de silenciarmos todas as formas de calúnias e de discussões vãs (cfr. rnb 11,1; 2Tm 2,14).